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Terceira Guerra Mundial



Em 2030 o mundo começou a virar do avesso, sem aviso prévio. Na verdade, houveram muitos avisos prévios, todos menosprezados.

Exatamente como nas duas Guerras Mundiais anteriores, a terceira só foi classificada como uma depois que já estava deflagrada. A maior novidade é que não foi uma disputa entre grandes potencias. Desta vez o inimigo poderoso e implacável foi a natureza.

Começou com as nuvens escondendo o sol, a nível global, sem que ninguém conseguisse explicar o motivo. Havia tanta poluição no ar, para ser transformada, que as chuvas ácidas que se seguiram duraram cinco anos contínuos, sem falhar nenhum dia. Florestas, plantações e rios morreram, corroídas e envenenadas. Os peixes que conseguiram se adaptar sobreviveram fugindo para as profundezas. Muitas aves e outros animais terrestres foram extintos.

Algumas teorias de cientistas se confirmaram, outras foram desmentidas. Nuvens se alternavam com o sol escaldante em algumas regiões, matando tanto com frio extremo quanto com incêndios espontâneos. As temperaturas se alternavam. Teorias novas surgiram, incluindo as que diziam que a natureza queria exterminar os habitantes, mas não o próprio planeta. Desertos se transformaram em florestas e vice-versa, todas estéreis durante aquele período bizarro. Lagos e rios secaram ou foram envenenados.

O cataclismo não ficou só nas chuvas ácidas. Correntes marinhas e aéreas se inverteram, provocando maremotos e tsunamis por todo o planeta. Muitas cidades portuárias foram destruídas. Gases venenosos, consequência da corrosão provocada pelas chuvas, foram levados pelos ventos e se espalharam para todos os locais, atingindo os poucos locais onde a chuva abundante não chegava.

A natureza realmente queria vingança, tentando o extermínio da raça humana. Usava armas poderosas. Além das chuvas, maremotos e tsunamis, houve erupções vulcânicas com violência nunca vista antes, movimento e degelo de geleiras, tempestades de areia, vendavais e tudo o que pudesse provocar destruição e mortes. Mais da metade da população morreu de fome. Outro tanto morreu devido aos desastres naturais. Depois dos cinco anos as chuvas pararam, tão repentinamente como haviam começado. O saldo que ficou foi a destruição de 90% das instituições do planeta e o extermínio de 70% da população. Muita coisa aconteceu naqueles anos negros.

Desde o início das calamidades, a ONU se desdobrava como podia tentando salvar alguma coisa. Meu trabalho na PAHO se concentrava na América do Sul, onde toda a Floresta Amazônica se transformou num pântano venenoso. Meus estudos sobre guerras e táticas militares me davam alguma vantagem, ajudando a planejar a distribuição de comida entre os sobreviventes, construção de abrigos plásticos, criação de estufas hidropônicas e principalmente estações de reciclagem de água. Todos estes itens se tornaram artigos de luxo, raros e disputados, apesar de serem de primeira necessidade.

Empresas e governos baseados exclusivamente em miopias locais desapareceram junto com as fronteiras. O planeta se tornou uma vítima só, castigando todos os ocupantes da mesma forma. Só sobreviveram as grandes multinacionais, habituadas com culturas múltiplas, transferindo recursos de uma região para outras, conforme a necessidade. Assumiram a autoridade global naturalmente, principalmente a ONU e a OTAN, detentoras do maior volume de recursos humanos e materiais. Outros grupos, com acesso a água, recursos naturais não contaminados, tecnologia ou informação colaboravam para salvar qualquer coisa que conseguissem. Quem possuía estes recursos se tornou milionário, mesmo quando papel moeda e outras unidades de valor se tornaram obsoletas. Água pura se tornou o bem mais valioso, seguido dos meios de obtê-la. Pela primeira vez na história da Humanidade, sobreviver só foi possível através de colaboração, não de competição. Consegui armazenar muitos créditos, o novo valor monetário, no Banco Mundial criado para administrar as trocas de bens. Nos anos seguintes, por continuar solteiro, meus créditos continuaram se multiplicando, junto com minha evolução profissional.

O mundo agonizava, mas as pessoas não mudavam. Pelo menos algumas, pois sempre existem rebeldes jogando contra, privilegiando os próprios interesses.

Trecho do livro As cinco esposas de Nathan, publicado na Amazon.

Crédito da imagem: ID 116647495 © Bulat Silvia | Dreamstime.com

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