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O início de tudo


Barra funda - São Paulo
Barra funda - São Paulo

Aquele grupo não se importava com o sol brilhando lá fora, numa bucólica tarde de domingo, em São Paulo. Enquanto muitos paulistanos aguardavam ou se refastelavam no almoço, outros jogavam a pelada semanal com os amigos e outros estavam acabando de levantar-se, o grupo só pensava em planejar o futuro. Ou o início do futuro.

Eram escritores, estudando a criação dos parágrafos iniciais de qualquer texto, visando conquistar leitores de uma forma arrebatora.



Escritores em pausa para um lanchinho
Escritores em pausa para um lanchinho


Eu era um dos reclusos. Estes poucos parágrafos são um exemplo das técnicas ministradas pelo Mestre Fábio.

E não ficou só nisso. Os ensinamentos precisam ser aplicados. Veja os inícios dos livros inéditos em processo de construção:


Giulia Denich e o monstro de Guarulhos


Havia ligado discretamente para todos os contatos, incluindo blogueiros e amigos na imprensa. Os amigos, apesar de poucos, jamais se recusavam a ajudá-la. Geralmente esperando uma retribuição ou um pouco de atenção especial.

Conseguiu o telefone do homem durante aquela semana, depois da minuciosa investigação. Ligou para ele na véspera. O sujeito atendeu com voz de sono, embora a ligação tivesse ocorrido pouco depois das dezoito horas:


Red Moon, uma empresa com sangue nas veias


Empresas sempre conseguem tudo. Perdi minha sala na Contabilidade uma semana depois da plaquinha com meu nome ser pregada na porta.

O nome, Carlos Alberto dos Santos Cicullo, estava abreviado naquela placa, obsoleta em tão pouco tempo. Até então, era meu maior orgulho. Eu a via como o topo do sucesso, desde minha transferência para trabalhar em Paris, na Matriz daquela multinacional.

Para a empresa, e para os colegas franceses, eu era apenas Carlos Cicullo. Para os amigos e conterrâneos brasileiros continuava sendo Betinho, o sortudo, aceito na Red Moon Healthy Support International, a maior Companhia do mundo atuando em causas humanitárias. Meu sonho de consumo.


A bruxa de Saturno


Sou o Capitão Zoran, Engenheiro de Armamentos do Quarto Batalhão de Invasão, em missão confidencial. Ou este era meu posto, até me afastar e começar minha própria jornada, caçando a bruxa fugitiva. Você ou qualquer outro lendo este relatório, vai entender. Meu interesse nunca foi promover a guerra ou forçar a invasão fracassada, a que nunca ocorreu. Coisas assim sempre ficam fora de vinganças pessoais. Vou te contar tudo, desde o início.

Este planeta continua igual, pelo menos no desconforto. Continua sujo, fedido e cheio de fumaça. Definitivamente, não foi feito para mim. Mesmo nesse corpo adaptado, o cheiro do oxigênio ainda me incomoda. Está melhor agora, desde minha última visita, com mais substâncias misturadas ao ar, formando aquilo chamado pelos nativos de poluição. Por minha escolha, eu jamais voltaria a este planeta.

A única coisa boa aqui é a densidade gravitacional menor do que a de Saturno. Me deixa muito mais leve e a perna dói menos. Também me deixa bem mais forte fisicamente, comparado aos terráqueos.


Beth Segunda


Estava lá. Grande, frio, negro, silencioso e destoante. O homem não entendia como um objeto com mais de trezentos anos podia permanecer no átrio de um hospital. Não fazia sentido, mesmo sendo uma doação de alguma personalidade agradecida.

O piano devia ter sido fabricado no início do Século XIX, ou antes até, inexplicavelmente bem conservado até o ano corrente, 2208. Era ainda mais estranho por estar em Vênus, no Hospital Modelo Thalma de Naevus, o complexo hospitalar mais moderno do Sistema Solar Terráqueo, situado inteiramente na área de uma cápsula flutuadora exclusiva. Milhares de metros quadrados para um único hospital.

A divagação foi interrompida pelo som de passos. No átrio silencioso, até caminhar fazia barulho. A doutora, com aquele tradicional traje colante branco, provocativo se não fosse o avental por cima, se aproximou contrastando com o piano negro.

- Senhor Jonathan, creio que não ouviu os chamados pelo sistema de som do hospital.

- Já acabou? Vim para este andar justamente por ser o mais silencioso, apesar de ser a entrada social.

- Aqui é quase vazio. O movimento se concentra nas câmaras de Teletransporte. Mas, sim, terminamos. A criança está bem. Foi encaminhada para a UTI neonatal, para os exames de rotina.

- Ótimo. Já posso ver minha esposa?

- Não quer saber da sua filha antes?

- Você já disse que ela está bem.


E então, por estes poucos parágrafos, conseguiu entender o tema de cada livro ou de cada protagonista?


Vem mais por aí.

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