Eram cinco horas quando Felipe chegou ao apartamento, respirando normal, mas ainda nervoso. Guardou a varinha na gaveta da cômoda próxima ao sofá e estava desabotoando a camisa, num gesto mecânico, quando ouviu o silêncio.
Era o momento em que ligava a TV para fingir companhia. Desta vez mudou de atitude. Falou em voz alta:
— Abadia, está aqui?
— “Estou, querido.”
— Pode aparecer para mim? Não quero ficar sozinho.
Um flash luminoso piscou e a ruivinha de blusinha e minissaia Pink com asinhas de arame nas costas se materializou bem no meio da sala. As anteninhas vibravam.
— Você nunca mais estará sozinho, amor, mesmo quando não me vê.
— Não quero só VER você.
Ele a puxou num abraço apertado e cravou um beijo de cinema nos lábios dela.
Quando as bocas se separaram puderam voltar a conversar.
— Abadia, eu senti medo hoje. É um sentimento horrível. Sem você eu podia estar morto agora, no fundo daquele rio.
— Não fique pensando nisso. Já passou.
— Posso te levar comigo todos os dias? Pode ser no formato de varinha.
— Pode, mas não precisa. Nosso elo mental está muito forte. Eu passo mais tempo na sua cabeça do que na varinha. Basta pensar em mim e estarei com você, não importa a distância. Você é meu dono e minha mágica te pertence. Eu só executo.
— É difícil me acostumar a isso. Parece uma relação de escravidão.
— Não pense assim. Eu sou escrava do meu poder, não de você. Meu poder me obriga a obedecer a um dono, mas poderia ser qualquer pessoa. Já tive milhões de donos. Hoje mesmo, se tivesse me ordenado para matar aqueles dois, eu teria feito sem questionar. Você preferiu dar uma lição neles. Adorei isso. Me deixa orgulhosa de pertencer a você. Não pense em mim como escrava, mas como uma ajudante fiel.
— Não sou tudo isso, Abadia. Eu tenho defeitos.
— Eu sei. E tem desejos. Meu papel é realizá-los. Mais um motivo para ser sua.
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